Para comemorar o primeiro aniversário do Intelligent CIO América Latina convidamos dez líderes de TI da região para falar sobre os principais desafios tecnológicos dos próximos anos e discutir os sucessos de hoje, como aumento de produtividade e superação de adversidades
Ricardo Guerra, CIO, Itaú Unibanco
Em um mundo dinâmico como o atual, é preciso revisitar constantemente todo o aspecto cultural presente no âmbito corporativo, para que ele continue a ser integralmente pensado em prol do cliente. Hoje, mesmo as mais bem sucedidas organizações precisam passar por esse processo para continuarem evoluindo e permanecerem competitivas no mercado.
Em um cenário em que a tecnologia avança em ritmo acelerado, os desafios sempre estarão em transformação, por isso é muito importante que nossos profissionais consigam enxergar como podem impactar positivamente a vida das pessoas.
Como maior banco privado da América Latina, acompanhamos de perto o desenvolvimento de novas tecnologias e enxergamos o processo como uma evolução natural do nosso negócio. No entanto, isso nunca aconteceu de forma tão rápida, o que faz com que a tecnologia passe cada vez mais a ocupar o centro da estratégia das instituições.
É por isso que o monitoramento de tendências nunca foi tão importante. Conseguiremos ter a capacidade de acelerar nossas operações e potencializar cada vez mais a nossa capacidade de desenvolver e entregar novos produtos e serviços com agilidade, qualidade e eficiência, mantendo a relevância e a liderança em um cenário cada vez mais competitivo.
Heather Silston, diretora de Sistemas da Informação, Coca-Cola Bottlers Porto Rico
O maior desafio tecnológico em Porto Rico e em grande parte da América Latina não é apenas tecnológico, mas talvez socioeconômico e político. Isso exige investimento no sistema educacional do país e inclui uma agenda que contemple essas mudanças tecnológicas.
Em Porto Rico ainda dependemos muito do trabalho manual. No entanto, para manter nossos processos eficientes com preços acessíveis, precisamos de mais avanços na automação de processos.
O perfil do funcionário sofrerá mudanças: de um trabalho manual sem necessidade de conhecimentos tecnológicos para uma atividade que irá demandar conhecimento de sistemas. Isso tem outras implicações e impactos, pois exige uma força de trabalho mais sofisticada e, portanto, um sistema educacional mais robusto para preparar essa nova força de trabalho.
O maior desafio que teremos é desenvolver programas para treinar nossos atuais funcionários para implementar e trabalhar com as novas tecnologias que vamos implementar nos próximos anos.
Eduardo Spitzner, CIO, Buschle & Lepper
Existem inúmeras oportunidades de implantação de soluções tecnológicas que foram geradas ou aceleradas com a pandemia. A adoção ou evolução de Inteligência Artificial (IA), automação de processos, análise de dados e mobilidade tem sido cada vez mais reconhecidos como diferenciais estratégicos pelas empresas. O desafio do próximo ano será acompanhar as tendências com eficiência e agilidade.
Além disso, a introdução de soluções para viabilizar o trabalho durante a pandemia permitiu que a TI respondesse à demanda imediata, mas gerou muitas brechas de segurança. O trabalho e projetos relacionados à cibersegurança estão se acumulando e precisam de atenção especial.
Para responder às novas demandas, dificuldades e ameaças, a TI precisará buscar novas formas de viabilizar as soluções. Uma tendência que deve cada vez mais ganhar importância e visibilidade será a adoção de soluções no-code e low-code.
Da mesma forma que há alguns anos alguns profissionais aprenderam a trabalhar com planilhas, agora estes profissionais terão condições de criar robôs e aplicativos simples para auxiliá-los nas demandas do dia a dia. Os CIOs serão fundamentais na transformação cultural e na preparação da base tecnológica, de conhecimento e de segurança que esta tendência exigirá.
Germán Garay, CTO, Metrotel Argentina
A pandemia da Covid-19 estabeleceu um novo paradigma no qual conectividade e a segurança de redes são ativos estratégicos da nova sociedade digital. A necessidade de maior largura de banda gera muitas oportunidades de investimento associadas à infraestrutura em fibra óptica. O desafio será ver como os projetos ficarão diante da investida da macroeconomia. Nesse contexto, os esquemas compartilhados se apresentam como uma opção eficiente para enfrentar os desafios e oportunidades da Transformação Digital.
Por outro lado, este novo cenário onde coexiste nuvem, telecomunicações e fornecedores de aplicações e hardware, tem impacto na forma como o serviço corporativo é prestado.
Nesse sentido, a Metrotel, empresa especializada em telecomunicações da Argentina, vai direcionar os investimentos e associações para agregar valor a esses “suprimentos básicos” que hoje desempenham um papel fundamental, além de promover soluções inteligentes para atender a demanda emergente.
Por fim, buscando estar na vanguarda da demanda do mercado, continuaremos nosso trabalho com foco em melhorias relacionadas à qualidade do serviço, oferecendo autonomia aos clientes, redução de tempo de implementação e resolução de falhas.
Eduardo Costa, CIO, SONDA Brasil
Em momentos desafiadores como o atual, com um mercado cada vez mais exigente e buscando por soluções para enfrentar as adversidades, é imprescindível contar com o apoio de profissionais que diferenciam positivamente o negócio nessa jornada.
Por meio da transição de um novo perfil, o CIO deixou de olhar apenas para as demandas tecnológicas internas das empresas e passou a atender aos negócios. Ou seja, esse profissional é o grande orquestrador da evolução da TI para a Tecnologia de Negócios (TN).
Diante deste cenário, a digitalização passa a ser um caminho sem volta e as empresas precisam refletir sobre o nível de maturidade de seus departamentos de TI para que ele esteja alinhado ao negócio. Tal evolução está forçando essa reinvenção dos CIOs, que precisam alterar os processos internos e as exigências que recaem sobre eles. Não é suficiente apenas administrar as demandas internas do dia a dia, mas se aperfeiçoar continuamente para produzir mais e melhor.
As características do novo perfil de CIO ultrapassam o domínio tecnológico e de gestão de processos. O novo perfil do CIO deve ser de um líder de negócios, se igualando aos demais executivos da empresa. Esse cenário afeta diretamente o que nós chamamos hoje de TI. Provavelmente, a nomenclatura será rebatizada por TN, um nome que demonstra claramente sua integração aos negócios.
Juan David Orozco, CTO, Home Capital Colombia
A inclusão de tecnologias disruptivas como Realidade Virtual (RV), Realidade Aumentada (RA), Blockchain e Inteligência Artificial (IA) permitirá um avanço muito importante no setor de moradia, impactando positivamente muitas famílias colombianas. Um dos maiores desafios é a Transformação digital em todos os processos de compra de uma casa: financiamento, registos notariais, escrituras, levantamento de hipotecas, etc. Se esses processos forem lentos, burocráticos e complexos, a experiência do cliente não será boa.
Por isso, será necessário a modernização da tecnologia para que as pessoas comprem imóveis e tenham confiança no processo. É necessário trabalhar com foco no cliente, a partir da experiência do usuário, utilizando ferramentas RV e RA, tornando o processo mais simples, rápido e seguro. Através da geolocalização e Machine Learning conseguimos aproximar os clientes de soluções que atendem às suas necessidades, mas precisamos sempre estar atentos às evoluções.
Além disso, precisamos entender que o setor precisa trabalhar junto, respeitando a privacidade do cliente e disponibilizando informações relevantes para eles. Assim, conseguiremos criar uma base sólida para o avanço e para a verdadeira Transformação Digital do setor. Isso permitirá que todos os dados coletados sejam explorados de forma criativa.
Leila Zimmermann, CIO, Johnson & Johnson MedTech Brasil
O processo de Transformação Digital no setor de saúde vai se intensificar nos próximos anos, e há temas extremamente críticos aos quais devemos responder, como os regulatórios e de segurança da informação. O desenvolvimento e o avanço de novos produtos e soluções médicas são impulsionados pela utilização de dados, que implicam em questões regulatórias e de proteção das informações dos pacientes, trazendo um desafio real sobre como avançar neste tema de maneira ética e segura.
Cada vez mais a área de TI passa a ter uma posição importante e estratégica na inovação e na criação de recursos que vão além dos dispositivos médicos físicos, complementando e trazendo valor às nossas soluções. Os temas mais relevantes nesta área estão nas formas de trabalho, por meio da aplicação de frameworks ágeis com orientação a produtos, ciência de dados, automação e digitalização de processos, bem como a experiência do cliente. É importante usar a Transformação Digital para impulsionar a transformação no sistema de saúde como um todo, beneficiando médicos e pacientes com as melhores soluções.
Por último, temos os avanços tecnológicos como o uso de robótica para cirurgias de precisão, as tecnologias 5G, o Metaverso e outras soluções emergentes que necessitam ser desenvolvidas e aplicadas para atender a desafios reais, trazendo inovação e respostas às necessidades do mercado Medtech. Nesse contexto, o time de tecnologia deve entender de processos e atuar como um player importante na contribuição e na geração de novos modelos de negócio.
Alejandro Comisario, vice-presidente executivo de Engenharia, Rappi Colômbia
Inovação e tecnologia devem ser prioridades para os governos. Estes, juntamente com a ciência e os recursos humanos, são elementos essenciais para o progresso da Colômbia. Para se manter na vanguarda das potências mundiais, precisamos de educação digital e, claro, apoio do governo. Assim conseguiremos enfrentar os desafios de regulamentos que acompanham a evolução tecnológica e a necessidade das pessoas.
No caso da Rappi, que opera no setor de delivery, a educação digital é essencial. Acredito que desde a escola, jovens e acadêmicos deveriam ser educados sobre a importância da tecnologia em todos os setores da economia. Na Rappi, nosso desafio diário é melhorar e inovar na forma que coletamos, processamos e convertemos esses dados em informações para continuar nossas melhorias.
Assim, a jornada de dados continua sendo um desafio para as organizações. Atualmente o fluxo de dados gerados pela digitalização aumenta a cada dia, por isso é necessário encontrar a forma correta de transformar esses dados em informações relevantes. De acordo com o Visual Networking Index (NIV) da Cisco, até o fim de 2022 haverá um tráfego mensal de 396 exabytes de dados em redes ao redor do mundo. Há cinco anos, eram 122 exabytes.
Sergio Chan, gerente corporativo de TI, Grupo Numar, Costa Rica
A nível geral, o principal desafio do setor de agronegócio é incentivar a evolução do modelo de negócio das empresas para proporcionar sustentabilidade, e convertê-lo em um modelo dinâmico e adaptável, focando na compreensão dos clientes e do mercado. Do ponto de vista tecnológico, um dos grandes desafios para sustentar essa evolução no modelo de negócios continua sendo o mesmo que vem sendo proclamado há anos: ter informações oportunas e confiáveis e gerar conhecimento para a tomada de decisões.
No agronegócio há um amplo leque de oportunidades tecnológicas. Posso dar o exemplo do fortalecimento da agricultura de precisão, que utiliza modelos de previsão baseados em dados de fontes heterogêneas que nos permitem focar em mudança de padrões climáticos e tendências de mercado. Também podemos citar a constante necessidade desta indústria por melhores dispositivos de análise interconectados.
Vejo que as empresas estão cada dia mais dependentes da tecnologia. O comportamento dessa tendência é exponencial. Estamos produzindo cada vez mais dados e ao mesmo tempo precisamos gerar e traduzir esse volume de informação em conhecimento. Nesse ambiente de grande volatilidade e incerteza, o desafio do CIO é ajudar a estabelecer o equilíbrio que deve prevalecer entre rentabilidade e investimento necessário para gerar informação e conhecimento, garantindo sempre a perenidade do negócio.
André Sousa Ferreira, CIO, Stellantis América do Sul
Acredito que para os próximos anos o CIO precisa continuar sendo relevante no contexto dos negócios da empresa, e não apenas um profissional que cuida da infraestrutura de TI. O profissional precisa trabalhar completamente conectado com todas as áreas de negócio da empresa.
Outro ponto a ser discutido é que as indústrias, principalmente na América Latina, sofrem continuamente na questão de competitividade e, para o CIO, isso acaba sendo um desafio onde ele precisa inovar e continuar com a sua otimização de custos. Dou o exemplo da indústria automotiva que é extremamente caracterizada por isso, e o time de TI acaba sofrendo essa pressão. Ao mesmo tempo que a equipe é uma habilitadora de performance do negócio, ela também precisa entregar eficiência, inovando e mantendo os custos sob controle.
Porém, acredito que atrair e reter talentos que possam promover a Transformação Digital no negócio talvez seja o maior desafio para os CIOs. Atualmente o profissional de tecnologia se sente muito mais atraído por um ambiente que é nativamente digital. É preciso mostrar para estes talentos que, apesar de sermos uma indústria automotiva, nós temos um ambiente extremamente desafiador quando se trata de tecnologia. Temos uma complexidade muito grande que exige uma visão totalmente holística deste profissional.
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